Partilha de perspectivas... tanto quanto atualizadas.



quarta-feira, 28 de dezembro de 2011

Expetativas... para 2012!

Sem nos deixarmos vencer pelas vozes agoirentas de tantos ‘profetas da desgraça’, tentaremos deixar um leque de sugestões – na sua maioria (quase) positivas – para o novo ano, auspiciando razoáveis expetativas, que dependem de nós e não pode(re)mos transferir para os outros... A lista, que apresentamos, seguidamente, não é por escala de importância nem por razões de mentalidade, pois, se quisermos, esta listagem nunca estará fechada!

- Da verdade fazer lema. Quem se esconder por detrás da mentira é falso e serve o mal.
- Da poupança criar riqueza. Quem muito promete, quase sempre falha e, muitas vezes, engana.
- Do trabalho fazer mais do que uma ocupação. Não basta sobreviver é preciso viver com sentido de benfazer aos outros, trabalhando dignamente... como vocação e missão.
- Da coerência tornar-se discípulo. De pouco servirá ter boas intenções se, muitas delas, forem desejos inexequíveis.
- Do respeito (mútuo, pessoal, familiar, profissional e social) fazer promoção. Quando todos fizerem dos demais companheiros, a sociedade poderá deixar de ser floresta de interesses egoístas.
- Da tolerância fazer aceitação. Mais do que fazer valer os direitos, importa assumir os deveres... de uns para com os outros e de todos para com os mais desfavorecidos.
- Da igualdade fazer gerar a diferenciação. Na medida em que formos fraternos uns para com os outros mais crescerá a possibilidade de todos se aceitarem, respeitando as suas obrigações e hierarquizando as razoáveis competências.
- Da austeridade poderá acontecer (mais) justiça. Mais do que sentir-se vítima das restrições (económicas ou salariais) poderemos ter de inventar formas novas de participação no bem comum.
- Da solidariedade fazer crescer a caridade. Não basta dizer-se solidário com os outros, é preciso aproximar-se deles com o coração aberto... em forma de esponja.
- Do saber dar ao ser capaz de receber. Por muito pouco que se possa ter , pode surgir sempre uma oportunidade de partilhar desinteressadamente.
- Das boas intenções às possibilidades de concretizar. Mais do que dizer para os outros fazerem, importa ser capaz de se comprometer nas coisas simples de cada dia.
- Da barriga vazia/cheia à espiritualidade satisfeita. De pouco valerá dar de comer se não se derem razões para lutar por algo mais valioso, a vida espiritual.
- Da defesa dos valores ao questionamento dos comportamentos. Saber educar para a ética exige ter princípios morais onde Deus conte e os outros sejam sujeitos e não meros predicados... sem complemento.
- Da denúncia à compreensão. Mais do que contentar-se com reivindicações, importa escutar as razões de quem exige e de quem manda... encontrando as diferenças.
- Da sementeira à colheita. A participação nas tarefas faz-nos ser humildes, pois cada um deve ser parte da construção do todo... familiar, social, nacional.

Estas breves expetativas queira Deus amadurecê-las neste ano de 2012. Bom ano com a bênção de Deus!

António Sílvio Couto

segunda-feira, 19 de dezembro de 2011

‘Boas festas’

Um destes dias cruzei-me na rua com uma figura política conhecida no espaço onde agora vivo. Depois de breves frases de circunstância, o senhor rematou: ‘boas festas!’
Fiquei a pensar no que podia significar tal desejo, visto que – tanto quanto se sabe – o senhor que tal  expressão manifestou não é crente em Deus, embora ocupe um lugar de destaque na sociedade politico-autárquica... e pretenda ser bom cidadão.
- Embora este desejo de ‘boas festas’ ande no andar: que poderá significar tal pretensão, à luz do (não) Festejado no Natal?
- Se bem que este desejo de ‘boas festas’ possa resumir uma espécie de anseio: que alcance poderá ter para quem não reconhece que o (tal) Aniversariante nos faz irmãos?
- Atendendo a que o desejo de ‘boas festas’ pode incluir um (quase) ritual social: que significado poderá envolver, se fazemos festa a nós mesmos, desconhecendo Quem motiva a pretensa festança?

= ‘Boas festas’ de quem?
Na medida em que a sociedade se foi descristianizando, urge recolocar as referências do Natal nas palavras e no comportamento pessoal, familiar e coletivo: este é o aniversário do nascimento de Jesus, acontecido em Belém da Judeia... com o qual se fez a divisão da era histórica e social – antes de Cristo e depois de Cristo – Ele é a marca divisória inclusiva e universal. Com efeito, por muito que se enfadem certas correntes filosóficas, culturais e/ou exotéricas, ninguém divide o tempo da História entre antes ou depois de Marx, de Freud ou de Nitzeche, de Sócrates ou de César... Nem certas correntes agnósticas e (pseudo)-ateias conseguirão excluir da mentalidade as referências a Jesus Cristo, pois, muitas vezes, fazem-no por oposição a Ele, tendo de reconhecer a Sua existência e a sua influência na cultura... desde há mais de vinte séculos.
Nem a bizarra figura do ‘pai natal’ conseguirá interferir na prossecução do advento de Cristo, pois quem está subjacente àquela figura é – nem mais nem menos – um bispo católico (São Nicolau), embora explorado, no início da década de trinta do século vinte por uma marca de refrigerantes americana. Não deixa de ser sintomático que possamos refletir – neste nosso tempo dito de ‘crise’ – sobre essa ‘grande depressão’, que se abateu sobre o mundo entre as duas grandes guerras. Pode(re)mos agora exorcizar esse símbolo do consumismo, dando espaço e oportunidade ao verdadeiro sinal que celebramos no Natal.

= ‘Boas festas’, porquê?
Quando tantos e muitos dos nossos concidadãos passam dificuldades de vária ordem – económica e financeira, familiar e de emprego, alimentar e sobre as rendas de casa, etc. – porque havemos de desejar ‘boas festas’, se estas são mais alienação do que motivo de celebração. De fato, quando a ‘crise’ faz encolher os gastos e turvar o semblante das pessoas, será sinal de que as ‘boas festas’ estavam, sobretudo, centradas em coisas e não ideais ou sob objetivos de vida consentâneos com a fé.
Efetivamente, as luzes eram mais para nos seduzir e enganar e não para nos alumiar a partir de Cristo, luz do mundo e centro da nossa fé cristã.
Eis chegada, então, a oportunidade de viver o espírito do presépio – esse espaço de pobreza e de desafio à complexidade do nosso mundo – numa atitude de simplicidade, vivendo centrados no essencial, sem enfeites ou papel luzidio... onde muito se vende e tão pouco se vivencia.
Queira Deus que saibamos aproveitar este momento histórico e espiritual de entrarmos no novo ano com nova energia – 2012 é o ‘ano internacional da energia’ – dando nova condição à paz, educando – como diz o tema da mensagem do Papa Bento XVI para a celebração do dia mundial – os jovens para a justiça e para a paz.  

 António Sílvio Couto

segunda-feira, 12 de dezembro de 2011

Diante do presépio, hoje!

Eis-nos com toda a verdade e humildade diante dos vários sinais, que são as figuras do presépio. Não são muitas as que iremos referir, mas cremos que são as essenciais... para descobrir novas lições de vida.
Tentamos, ao longo do Advento, viver e ajudar a viver esta dinâmica contemplativa diante destas figuras do presépio.  Por isso, mais do que boas intenções para os outros quisemos vivê-las... por antecipação, deixando aos nossos leitores algumas sugestões diante do presépio... sem romantismo nem sabor idílico, consideradas como desafios à nossa pressa diária.

- As ‘ovelhas’ numa linguagem de simplicidade... para sabermos compreender as palavras de Deus nosso dia-a-dia.
De fato, as simples ovelhas podem-nos acalmar, por entre tanta azáfama e correria na vida do dia a dia. A sua pacatez faz-nos bem ao nervoso (quase) inconsequente para travarmos os nossos impulsos consumistas. Perante um certo vazio de vida e duma programação sem objetivos, podemos e devemos olhar aquelas simples ovelhas como sinais de humildade e de comunhão com a natureza.

- O ‘boi/vaca e o burro’ numa linguagem de afeição e quase ternura... para deixar-nos iluminar no relacionamento mais fraterno uns com os outros.
Apesar de serem animais de outro porte e com diferente figuração, vaca e burro podem servir de aconchego a Jesus na noite fria – tal é o ideário da nossa imaginação! – de Belém, criando um ambiente menos gelado em nós e à nossa volta. Nem a ruralidade daquele quadro pode-nos distrair da consciência de afago e proteção, que estes dois animais dão ao nosso presépio, tão simples e centrado no essencial.

- A figura de São José, como sinal e presença do pai em família.. para deixamos iluminar a nossa realidade familiar pela atitude de testemunho em proximidade para com aqueles que vivem connosco.
Normalmente a imagem de São José é-nos apresentada como alguém que está de pé e em vigia sobre a Mãe e o Filho: ele dá proteção e segurança, cuida e vela, resguarda e acompanha... Numa espécie de recordação tentamos ver o lugar do pai na família, com a devida presença e o necessário cuidado sobre todos aqueles que estão sob a sua proteção. José está. E os pais também estarão, hoje?

- Maria, como figura do presépio e presença de mãe, na Igreja e no mundo...  para suplicarmos e expormo-nos ao olhar materno de Maria para connosco… rumo ao Natal.
Ela é a Mãe. Depois de muitas dificuldades, contempla o seu filho – como qualquer mãe – reclinando-se sobre ele, sem distrações nem outros afazeres, que não seja cuidar dele. Este Filho, no entanto, é Jesus, o Verbo encarnado em seu seio pelo poder do Espírito Santo. Este quadro é sublime e santo, é intenso e simples, é atual e lança sementes para o nosso futuro... O teu rosto Mãe é de esperança! O teu rosto Mãe dá confiança!

- A imagem de Jesus-Menino está ao centro do nosso presépio, chamando a nossa atenção, pois Ele é o festejado... de braços abertos para nos receber.
Com efeito, que sentido teria a festa se o festejado fosse esquecido? Por vezes, andamos tão atafulhados com tantas coisas e com tantos outros interesses, que O festejado corre o risco de nem ter lugar no nosso coração. Efetivamente foi por não haver lugar na hospedaria, lá em Belém, que Jesus teve de nascer num curral de animais. Será que Ele tem lugar no meu Natal ou vai continuar à espera?
Jesus (re)nasce em mim, neste Natal.

António Sílvio Couto

sábado, 3 de dezembro de 2011

Excesso de notícias versus paz social

Nesta época de globalização, vivemos uma espécie de intoxicação informativa onde de tudo se fala, se mostra em excesso e, sem qualquer contenção, se noticia tudo e mais alguma coisa... Pois, dentro de uam certa lógica, o que não se noticia não existe ou será, no mínimo, ignorado!
É recorrente vermos que, a partir de breves notícias, imagens ou mensagens, se faz grande alarido, se provocam convulsões sociais, se desencadeiam espirais de violência, se incendeiam multidões... sabendo mais ou menos como começa e dificilmente se percebe como acabam.
Se, como aconteceu recentemente, a ‘greve geral’ não tivesse sido (tão) noticiada, será que o impacto da dita teria a mesma proporção e interesse para os seus mentores, os fazedores ou os receptadores? Se é ‘greve geral’, então, porque é que essa tal não é para todos e só para quem pretensamente ganha com o acontecimento? Alguém parece estar a querer mentir a outrém!...
Sem pretendermos menosprezar certos fatos de alcance público, questionamos se o excesso de notícias – algumas delas feitas quase para servir os ‘donos’ (económicos, políticos e até ideológicos) das empresas que pagam aos noticiadores – não poderão reverter em desfavor da paz social. Já vimos este filme noutros países... e Portugal enferma da mesma doença destabilizadora, manipulada e manipuladora!
Sabemos que, nos regimes de ditadura – política, ideológica e cultural – a melhor forma de tentar vencer os opositores é calar quem não pensa da mesma forma que eles. Mas não será mais útil à sociedade criar critérios de bom senso do que meros servidores do sensacionalismo? Afinal, uma imagem ou uma frase podem ser manipulados, distorcidos ou tirados do contexto... ficando à mercê de quem se diz ‘independente’, segundo o critério... da sua intenção mais ou menos subtil e pretensamente isenta!

= Em respeito pela vida privada
Nesta promiscuidade de informação a que estamos submetidos, diariamente, vemos com bastante frequência ser devassada a vida de pessoas normais, tornando-as figuras (figurinhas, figuraças ou figurões) que são espremidas até à medula... criando com isso novas vítimas, atores e explorados.
Também, neste desrespeito contínuo pela vida alheia, vemos crescer uma vulgar calhandrice – termo de algumas regiões para designar esse gosto de falar dos outros, normalmente, dizendo mal – sem pejo ou sem vergonha, não olhando a meios para atingir fins e, sobretudo, vilipendiando o que há de mais sagrado em cada pessoa: a sua intimidade e o seu mistério.
Não nos venham, entretanto, insinuar que uma grande parte das pessoas gosta de espreitar pelo buraco da fechadura, na expetativa de saber ‘segredos’ da vida alheia e que essa tal fechadura como que se tornou agora num esquema bem urdido em televisão, na internet ou noutras formas de bisbilhotice tão do agrado de quem se manifesta pequenino nas suas pretensões e sem respeito até por si mesmo... por aquilo que faz ou pretende fazer.  
Nem os mais populistas programas televisivos ou das redes sociais podem ser desculpa para que haja qualquer intrusão na vida dos outros, pois da correta conduta se pode avaliar quem se é e saber quem é o outro/a, respeitando todos/as com quem nos relacionamos.

= Quando o bem comum se impõe
Porque não acreditamos na absoluta isenção de muita cobertura jornalística – embora se diga que possa haver alguma independência – nalguns dos acontecimentos recentes, cremos que será de incentivar um processo de auto-regulação dos vários intervenientes em ordem a não serem fomentadas situações de guerrilha informativa nem a sermos levados a desconfiar de tudo o que se diz, o que se mostra ou daquilo que se apresenta, questionando sobre a sua procedência e quais os veículos de tal informação.
Estando nós sobre uma espécie de vulcão, cremos que os meios de comunicação só se credibilizarão se forem capazes de informar sem fazerem dos seus potenciais consumidores gente acrítica, mas participantes esclarecidos na ‘res publica’... sempre mais exigente, opinativa e esclarecida.
Porque não há senhores da verdade absoluta, precisamos de saber gerar leitores exigentes, ouvintes responsáveis, telespetadores adultos, internautas conscientes e cidadãos com capacidade de discernimento e de humildade na aprendizagem dos labirintos da informação para que possamos ter paz social... atual e futura.

António Sílvio Couto