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quinta-feira, 5 de abril de 2018

Celebrar a Páscoa ou viver em Páscoa?


De entre tantas questões que nos podem ser colocadas esta poderá não ser tão displicente quanto se possa considerar: celebramos a Páscoa (como uma data) ou vivemos a Páscoa (como atitude consciente, esclarecida e comprometida) na vida?

* Sobre o primeiro aspeto bastará consultar o calendário e ficaremos a saber que a ‘Páscoa’ se celebra no domingo seguinte à primeira lua cheia do equinócio da primavera (no hemisfério norte), podendo ocorrer entre 22 de março e 25 de abril…como datas extremas. Logo a data da Páscoa está ligada, no hemisfério norte, ao ressurgir da vida na natureza e, possivelmente, na dimensão espiritual – no nosso contexto – de índole cristã. Dada a centralidade desta data, assim, se calculam outros momentos celebrativos e até de natureza ou incidência mais mundana e social, como o carnaval (antes) e o Pentecostes (depois) da data da Páscoa…

* Sobre o segundo aspeto – viver a Páscoa – isso coloca-nos outros ingredientes que nos interessam tocar, refletir e aprofundar. Com efeito, nós vivemos tudo – os tempos litúrgicos e a sua preparação, as festas humanas, sociais e culturais – inseridos num tempo pascal, isto é, estamos em Páscoa desde que ela aconteceu com a Ressurreição de Jesus. Nada escapa a este fundo de vivência e tudo o que possa fazer-nos parecer que não é assim soará a confusão e/ou a falta de verdadeiro sentido pascal cristão.  

= Mesmo que, de forma breve, deixamos algumas questões atinentes à celebração da Páscoa mais na vertente social e cultural, bem como outras inquietações sobre certos ‘modos e ritos’ da época da Páscoa, mas que de pascais têm (ou parecem ter) muito pouco e, então, de cristãos quase nem resquícios daquilo que lhes deu origem. Será que a Páscoa se reduz a certos ritmos gastronómicos, mesmo sem lhes sabermos a sua origem e qual o conteúdo? Não será que alguns dos atos celebrativos (procissões e outros momentos extra-templos) revelam mais um certo verniz cristão, mas pouco conhecimento da razão de ser dos mesmos? Mesmo que já tenha terminados o tempo da cristandade, não continuámos com certos tiques de religião social, senão na teoria, ao menos na prática? Nalgumas regiões a dita ‘visita pascal’ ou o ‘compasso’ não refletirá mais uma festa nem sempre preenchida de sentido cristão e de alegria verdadeira? Não haverá muita alegria sem miolo? Não se andará a fazer festa, ignorando ou esquecendo O festejado? 

= Atendendo ao que motiva esta reflexão é de grande relevância ter em conta que tudo quanto a Igreja católica festeja o faz em contexto de tempo da Páscoa. Embora haja um designado ‘tempo pascal’, que decorre entre o domingo de Páscoa e o Pentecostes, isso acontece em tempo de Páscoa que não mais acaba. Todos os outros momentos religiosos, como Natal e a sua preparação pelo Advento, a Páscoa e a preparação na Quaresma, bem como o resto dos domingos do Tempo Comum, solenidades e festas de Nossa Senhora e de Santos/as, são vividos numa Páscoa de contínua vivência.

Dá a impressão que a celebração de certos rituais religiosos estão ser vividos como se fossem historicamente reproduzíveis no tempo e no espaço. Não mais há nem haverá tempo de Natal nem da Páscoa, esses já aconteceram na história – com tempos e espaços definidos – e são irrepetíveis. Agora temos de saber vivê-los com espírito de Páscoa, perscrutando o sentido de cada um deles na época do ano civil, religioso, cultural ou emocional. Se assim for muitos dos sinais e das caraterizações com que vivemos cada um desses tempos, sobretudo tendo em conta a pressão económica e de consumo, poderão ganhar um sentido relativo – isto é, relativizando-o e não se deixando absorver pela sua materialização – àquilo que deve despertar em nós cada uma dessas etapas do nosso tempo de caminhada terrena. Também haverá sempre novidade em cada um desses tempos, pois não estamos a repetir o que foi já vivido em anos transatos, mas cada momento terá uma graça especial e far-nos-á estar em contínua aferição à sua vivência: nenhum momento será igual aos anteriores, até porque temos idade e experiência humana entretanto adquiridas…

A Páscoa deste ano é irrepetível e está inserida na única Páscoa que dá sentido a todas as outras, a de Jesus Cristo que quer se acolhido como Ressuscitado na minha vida pessoal, na família e na Igreja!      

 

António Sílvio Couto  



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